sábado, maio 23, 2020

Estabilidade… Ah!!!, essa doce fantasia.



Grandiosas saudações.

Cultura… ao que parece anda na moda, mesmo estando (a meu ver) em estado comatoso há muito, e dado que ela se encontra moribunda, talvez não fosse má ideia começar por nos questionarmos sobre algo importante.

O que é a Cultura?

De que cultura se fala e que tipo de cultura pretendemos?!

Falamos da cultura de batatas e outras demais espécies de cultivo da terra?!
Do cultivo do conhecimento?! Da educação?! Dos conhecimentos que nos formam enquanto indivíduos?!
Da cultura dos hábitos e dos costumes?!
Da cultura do corpo e da mente?!
Da cultura intelectual? Da cultura artística?
Ou falamos simplesmente da cultura de micro-organismos?!

Uma coisa é certa, anda por aí muito micro-organismo a fazer fermentar pão, e se há coisa a que ninguém resiste, é a um belo pão… é caso para dizer Que o Presente e o Futuro nos livre de pão estragado.

Mas falava de Cultura… no fundo Cultura é tudo o que mencionei e muito mais, e haveria debates sem fim sobre o bom e o mau de cada uma destas culturas…

Será que de momento o que os/as artistas querem mesmo - é uma mudança na cultura?!!!, (no todo do seu significado?!), ou será que o que eles/elas querem, é - reconhecimento, respeito, e a devida remuneração pelo trabalho que efectuam?!

É que isso não é só cultura, é mais do que cultura, é antes de tudo o mais – uma reivindicação de direitos pela escassa falta dos mesmos.

No fundo, o que queremos mesmo é uma mudança, senão mesmo uma Revolução, NÃO na Cultura em si, mas no podre Ministério da Cultura.

A forma como o Governo encara a Cultura, como sabemos, é duvidosa, até porque como a cultura não é só arte, este ministério pode, ou não, efectivamente apoiar as Artes, e depois dentro das Artes, pode ou não, apoiar todas as artes que a Arte engloba.

Há muita gente que pensa que Arte se resume a espectáculo, pois bem - Nem todas as Artes são Espectáculo, mas seguramente muitas há, que são Espectaculares.

Como sabemos, apenas uma pequena parcela deste grupo de artes beneficia seja do que for… e da maneira que as coisas caminham, acho que não viverei para ver um apoio às Artes no geral, (embora ache que todas as formas de arte deveriam ser apoiadas e respeitadas, e não apenas as que dão mais visibilidade e mediatismo), contudo, sabemos muito bem que os apoios à Arte são ínfimos, e os que existem, só existem para os mais conhecidos, os pequenos, esses estavam, estão e continuarão a estar, dependentes de um esforço hercúleo, e quiçá, de alguma sorte na vida, para conquistarem a mais pequena coisa que seja… e esse esforço não advém de agora ou do Covid19, vem de sempre, porque não há, nem nunca houve, grande preparação na nossa sociedade para o que é a Arte, para a utilidade que ela tem, para o seu papel, e de que forma pudemos e devemos inclui-la na nossa vida, seja na vida individual ou em sociedade, e quando falo na nossa vida, refiro-me à vida de todos, não apenas à dos/das artistas.

Sempre se promoveu a Arte como algo dispensável e descartável, como uma futilidade, como uma distracção ou um passar o tempo… mas não nos enganemos, porque a Arte não é essa criatura ligeira e supérflua, apesar de a sociedade em geral não a ver ou encarar de outra forma, o que é triste, e a culpa é essencialmente dum estado que promove esse pensamento, esse comportamento, esse paradigma… que depois se perpétua como um cíclico ciclo vicioso, no seio da maior parte da nossa sociedade, ou não fossemos afinal nós também, parte culposa dessa espécie de estado de limbo em que nos encontramos.

Precisamos começar urgentemente uma mudança, e essa mudança começa na base, no início do ser. Como sabemos, as mentalidades demoram décadas a ser mudadas, é todo um longo processo, logo urge começar já, para que haja a hipótese de uma mudança de mentalidades, seja em relação à Arte ou a tudo o resto. Mas como bem sabemos a Educação também não anda muito bem de saúde… e se formos olhar para a Arte e seu impacto na Educação dos jovens de hoje, aí então encontramos um universo calamitoso.

A Arte serve para muitas coisas, para nos estimular, para nos tornar mais criativos, para nos dar novos pontos de vista, ou simplesmente para nos ajudar a expressar sentimentos e emoções.

Já nos tempos primitivos a arte funcionava como linguagem, de forma a traduzir aquilo que não se conseguia traduzir de mais forma nenhuma, portanto, desengane-se quem acha, que a arte é coisa apenas de e para intelectuais.

Não obstante a importância da Arte na nossa formação enquanto seres humanos, tem-se revelado também extremamente útil no tratamento de doenças do foro psicológico e psiquiátrico.

Isto para dizer que há muitas utilidades para a Arte na sociedade, muitas formas de a incluirmos, só não tem havido predisposição para a inclusão da mesma… a menos que… “andemos” reféns do Covid19, aí de repente já quase todos se lembram de recorrer à Arte, o mais que não seja, para manter alguma sanidade mental. Sim, porque quando lêem um livro, ouvem uma música, ou se sentam a ver um filme, ou até quando ficam apenas a apreciar pinturas, esculturas, ilustrações, etc, no ecrã de um computador, tablet ou telemóvel, estão a consumir Arte, e estão a fazê-lo porque vos sabe bem, estão a fazê-lo porque mesmo inconscientemente, sabem que vos faz bem.

Os/as artistas querem uma mudança pelo presente e pelo futuro, e quanto a eles e elas no geral não sei, mas eu pessoalmente não quero essa mudança por causa do Covid19, muito menos desejo essa mudança apenas de agora ou só para o agora, eu quero uma mudança sim, mas porque o passado das Artes em Portugal tem sido péssimo, como tal, eu gostaria de uma Mudança, pelo PASSADO, pelo Presente e pelo Futuro da Arte em Portugal
… se aquilo que queremos é uma reparação e uma mudança revolucionária, ou até, um ajustar de contas pela injustiça praticada contra nós ao longo das últimas décadas, nesse caso temos de começar também por exigir uma reparação do que foi praticado, até porque, o presente e o futuro não existem, nem vão existir numa versão melhorada, sem verdadeira consciência do que aconteceu no passado. Se assim não for, acabaremos a perpetuar erros que já foram cometidos, ao invés de os evitarmos, e no final, em vez de avançarmos, acabamos a rodar atrás da própria causa, tal qual um cão a rodopiar atrás da própria cauda em movimento perpétuo.

À parte tudo isto, fico feliz que finalmente haja uma maior mobilização pelas Artes, só tenho pena é que tenha sido necessário surgir um vírus pandémico chamado Covid19, de forma a este atingir quem melhor vivia na área das artes até esse dia, para fazer essas pessoas sentirem o sabor da precariedade em que mais de metade dessa mesma classe vive há décadas, e vermos finalmente muitas caras conhecidas a juntarem-se ao grupo dos que lutam há anos por melhores condições nessa mesma área, e de quem nunca ninguém quis saber… aliás, de quem nunca ninguém quis saber, e de quem certamente continuaram sem querer saber, pois a acontecer algo, esse algo certamente beneficiará apenas quem já era beneficiado até agora, ou então, quem conseguir a cunha certa, ou simplesmente, quem tiver a sorte de estar no sítio certo à hora certa, certo?!?!?

Ah e os outros?!, bem, os outros serão sempre os outros… o que me leva a mais duas perguntas:

– Quem são, ou vão ser, os/as verdadeiros beneficiários de toda esta mudança se ela acontecer?!
– Estarão os beneficiados dispostos a ser solidários com os Não beneficiados?!

Independentemente do desfecho desta história continuarei a lutar pelo que sempre lutei, e essa luta é contra o facto de passar a vida a ver o mundo desabar para os mais fracos, neste caso em específico, falo do trabalho precário no mundo das Artes, seja por causa da pedância e dos ciclos viciosos a que também os/as próprios/as artistas o habituaram… ou… da forma corrupta como o sector se move. É a pessoa X que lambe as botas à pessoa Y, que por sua vez adora uma bajulação e o/a recomenda à influente pessoa Z… mas pensando bem, não é mais ou menos assim em todos os outros sectores?!, porque haveriam as Artes de ser diferentes?!

Ah!, e os convites que chovem, mas apenas para trabalho gratuito, sim, porque eu enquanto ilustradora não preciso de comer nem pagar contas, aliás, tendo em conta os últimos anos, acho que até já posso dizer que ando a treinar para passar a viver de prana.
Talvez seja altura de começar a pensar virar assaltante de lojas de material de artes, a parte “boa” do Covid19 é que pelo menos máscara já não me falta para efectuar o assalto, isto desde que, eu não cometa a insanidade de a enfiar debaixo do queixo... ou a deixe pendurada numa só orelha… ou a coloque a servir de bandolete, como muita gente faz, mas adiante, pedidos de trabalho gratuito em troca de publicidade é coisa que realmente nunca falta, sendo que, a “publicidade” em questão muitas vezes se resume a que apareça o nosso nome junto ao trabalho, como se isso, já não fosse de si obrigatório mesmo pagando… pois é, parece que a trabalhar de graça, e uma vez que não há material que se compre sozinho, para ter acesso a ele, só mesmo roubando.

Se queremos mudar realmente a Cultura e as Artes, não deveríamos começar por mudar também este tipo de pensamentos inconsequentes, acções corruptas e atitudes permissivas?!
E por mim falo, quantas vezes ingenuamente não tive a atitude permissiva de trabalhar sem cobrar… “Ah, é só desta vez”, e depois vem outra… e outra… e um dia acordamos para a vida, e apercebemos-nos de que só estamos a ajudar a perpetuar actos que não deveriam ser perpetuados, muito menos permitidos, aliás, deveriam antes ser – Punidos.

Para terminarDentro do mundo das Artes existe um infindável número de “micro-organismos”... um desses “micro-organismos” chama-se ilustração… sim, porque  Artes não é só Teatro, Cinema, Música e Dança.
Para quem não sabe o que é essa coisa da ilustração, aconselho um estudo minucioso, se tiverem dificuldade em decifrá-lo, façam uso do “microscópio”, embora acredite que nem com microscópio”, a maioria das pessoas fique clarificada sobre os efeitos que a fermentação mental desse “micro-organismo” poderia causar, se, ingerido por toda a população, e mesmo que, apenas em dose moderada.

Até mais, até lá, se puderem, fiquem bem…

Elisabete, a Borboleta Despenteada

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