“No belo jardim que dominava o palácio real nasceu uma
tímida e pequena lagarta que foi poupada pelo jardineiro para se tornar numa
bela borboleta das sete cores. Era tão única que de todos gostava e com todos
falava. Tivessem asas, patas ou barbatanas. Fossem aves ou insetos voadores,
ruminantes ou terrestres roedores.”
Excerto do texto “A Borboleta das sete cores”, escrito
pelo 5ºD da Escola Básica Francisco Torrinha, do Agrupamento de Escolas Garcia
da Orta - Porto, e que está presente no volume
I das Histórias da Ajudaris’18.
Grandiosas saudações.
Aqui fica para vós mais um
pequeno excerto, este, do terceiro texto que ilustrei para as Histórias da
Ajudaris deste ano.
Mais uma estória que fala
da importância da Natureza, da amizade, da generosidade, do saber esperar, e da
evolução de todas as coisas vivas.
É também uma estória que
nos ensina que nada é inconstante e imutável, e que até a mais feia lagarta se
pode transformar um dia numa bela borboleta.
Esta estória era sobre a
natureza, mas querendo, os seus contornos levam-nos muito mais longe… a mim pelo menos,
levaram a que me embrenha-se em questões mais profundas, ou não fossem as
estórias que lemos, palavras para aguçar a nossa mente a fazer-nos viajar,
construindo assim novos mundos dentro do seu mundo original.
A lagarta é assim nesta estória,
não só uma lagarta em todo o seu esplendor, como é também para mim em simultâneo,
uma alegoria a todas as crianças que se sentem lagartas, seja porque o seu núcleo
de pessoas conhecidas as leva a acreditar nisso ao longo da vida, ou porque o
próprio mundo, cruel nas leis humanas de julgar o próximo, nos formata todos os
dias para o que é um ideal de beleza que está longe de ser a verdadeira
realidade, e muito menos ser uma verdade concreta.
O ideal de beleza não é
apenas ser de raça branca, ter uma aparência magra ou ter poder económico… mais
importante que a beleza física, e que mesmo essa seria discutível, o que
importa é o conteúdo de cada ser - o seu bom coração, o seu altruísmo e a sua
tolerância para com o próximo, seja ele de que cor, nacionalidade ou religião for.
Não é muito comum
encontrar estórias com crianças negras, pelo menos não na maioria dos países
membros da união europeia… se formos a analisar bem, a maior parte dos livros
infantis contêm personagens caucasianos, o que faz por sua vez com que as
ilustrações também reflictam isso mesmo… sendo que às vezes até dava para
abordar o texto de outra forma… mas já está tão enraizado, seja por preferência,
por pura empatia, ou porque nem sequer passou pela cabeça fazê-lo de outra
forma, que o padrão se mantêm.
No meu caso quase todas
as minhas ilustrações são de pessoas caucasianas, assim como no caso de outros
tantos ilustradores e ilustradoras, e isso surge não só por empatia, como pelas
próprias circunstâncias, circunstâncias que me levam a querer manter fiel às
histórias que me rodeiam, e às pessoas com quem me cruzo, que por sorte ou
azar, são caucasianas… circunstâncias ainda de me manter também fiel às
estórias que me pedem para ilustrar, e cujas personagens ilustradas devem ser
fiéis às personagens do texto… mas como é óbvio isto não é uma desculpa absoluta… talvez deve-se persistir mais, mas a preguiça às vezes é tramada... contudo, sempre que posso e vejo oportunidade para
isso, as minhas personagens não têm problema algum em pintar-se de outras cores
e tons.
Foi o que aconteceu aqui
neste texto da borboleta das sete cores… vista a oportunidade, aproveitei para
pintar uma borboleta negra, pois uma borboleta negra é tão bela quanto uma
borboleta de outra cor qualquer… e é também uma forma de dizer que ser-se de
cor diferente não é sinónimo de exclusão, ou rótulo para se ser apelidado/a de lagarta…
mas se for, que essas pessoas tenham consciência então, que só sendo primeiro lagartas poderemos algum
dia transformarmo-nos em Borboletas e voar.
E com isto me despeço…
até mais, até lá sejam tolerantes com que se cruzam.
Vivam... e deixem viver.
Elisabete, a Borboleta Despenteada